Não tenho conta no TikTok, muito menos prevejo que isso venha a suceder, mas não posso deixar de sentir algum interesse por uma moda aí vigente, consumida por milhões de internautas, que se deleitam com as imagens lacrimejantes de quem dá conta do fim de uma relação amorosa, da perda de alguém importante na sua vida ou da notícia de uma doença angustiante.
Teatro? Catarse pela exibição de uma angústia? Mero narcisismo? São muitas as hipóteses, porventura misturadas umas nas outras, para explicar esse fenómeno mediático. Mas há, sobretudo, a suspeita de um oportunismo primário, que busca um número imenso de visualizações, através do uso e abuso da expressão de supostas emoções.
Convenhamos que o choro tem sido representado nas artes ao longo da História humana como sucedeu com as cenas renascentistas da Pietá, que visavam criar um efeito psicológico preciso nos que as admiravam nas igrejas barrocas: a adesão das admirativas multidões aos aspetos mais emotivos da mensagem religiosa.
Pode-se igualmente recordar um tipo de teatro melodramático surgido em meados do século XVIII, quando os espectadores acorriam às salas para partilharem as lágrimas com os personagens em cena. Neste caso a iluminação da sala tanto abrangia o palco como o espaço onde eles estavam fazendo-os parte integrante do evento por todos transmitirem a imagem da sua própria sensibilidade, fosse ela sincera, fosse teatralizada.
Os filmes no TikTok são, pois, uma recriação dessa forma de autorrepresentação da sensibilidade de quem neles se expõe visando a exploração de uma carga emocional coletiva, não sendo, porém, evidente, um propósito ideológico para dela recolher...
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