domingo, dezembro 03, 2023

Três escritores que me são simpáticos

 

1. Há oitenta e cinco anos atrás a censura salazarista apressou-se a retirar do mercado o romance, que o antigo presidente Manuel Teixeira Gomes acabara de escrever no exílio argelino, nele retratando os escandalosos amores entre o sofisticado Ramiro d’Arge e a rústica Maria Adelaide. O regime tolerou uma tão veemente denúncia da miséria e analfabetismo das classes populares e, como delas se valiam os ricos que, tão-só enfadados da conjetural amante, logo a substituíam por outra, igualmente jovem e concupiscente.

Urbano Tavares Rodrigues muito elogiou a obra, que também não era benevolente para com os explorados: a protagonista não se livrava dos desconchavos e agressões dos familiares apesar de lhes garantir o sustento com a fortuna do “protetor”.

2. Escritor muito do meu agrado foi o grego Vassili Vassilikos, agora desaparecido com 90 anos e autor de mais de uma centena de títulos.

Em tempos idos, durante uma das muitas viagens por mar, li-lhe o Z, já depois de ver Trintignant no papel do juiz Sartzétakis e Montand no do deputado Lambrakis cujo assassinato aquele investigava. E foi mais um dos muitos casos em que o conhecimento do filme não obstou ao muito agrado com a leitura do romance.

Da última vez que soubera de Vasilikos era ele deputado do Syriza, demonstrando até ao fim uma coerência ideológica, que o torna merecedor de justificado respeito.

3. Outro autor, que muito admiro é Mia Couto, que bem mereceria suceder a Saramago, enquanto escritor lusófono creditado com um Nobel. Sobre ele li agora um texto de Luís Ricardo Duarte que, em poucas linhas, lhe define superlativamente a obra: “sempre desconfiou das pessoas que se dizem muito seguras, cheias de certezas, sem fazerem grandes perguntas -  e as suas personagens caminham pelos mesmos territórios movediços da dúvida: nas suas fraquezas e franquezas, apresentam-se inteiras e disponíveis para o Outro.” 

Sem comentários: