quinta-feira, dezembro 21, 2023

Uma fotografia de Sartre na União Soviética

 

O que conta uma fotografia? Que verdades ou mentiras podem estar nela contidas?

As questões justificam-se quando deparamos com a que Antanas Sutkus tirou a Jean Paul Sartre na costa lituana numa das viagens por ele - e Simone de Beauvoir - feitas à União Soviética, quando por ela sentia uma curiosidade empática, ciente de, mesmo com significativos desvios ao que deveria ser o seu projeto político, constituía pertinente contraponto ao capitalismo ocidental.

Os detratores do regime salientaram dessa imagem, reconhecidamente reenquadrada pelo fotógrafo, a sombra  que se cola aos passos do filósofo francês, dizendo-a pertença de um dos agentes do KGB, que não o largariam para lhe condicionarem a visita ao guião preparado para o efeito.

Na realidade essa sombra era a de Simone de Beauvoir, que seguia o companheiro e a quem Sutkus - assumido admirador de Sartre - decidira excluir da imagem. O que não conteve a pulsão de quem, no ocidente, viu a imagem em revistas de grande tiragem e a deu como exemplo da presença omnipresente da polícia política no quotidiano soviético.

Quanto a Sutkus, depois de servir o regime como seu fotógrafo oficial - embora recolhendo imagens comprometedoras só divulgadas depois da sua implosão! - passou a integrar a sociedade lituana pós-independência recolhendo do passado a versão mais benigna para justificar a sua ambígua condição de “resistente”! 

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