quinta-feira, dezembro 07, 2023

Utopias e pandemias

 

1. Passaram agora cem anos sobre o nascimento do Urbano Tavares Rodrigues. E, à exceção da Antena 2, somadas a algumas iniciativas em bibliotecas municipais, quase não dei pela efeméride.  Trata-se, porém, de um dos mais influentes escritores portugueses do século XX, que paga os custos de sempre ter-se assumido como comunista.

Justifica-se a suspeita de se ter tornado vítima de um macartismo cultural, que vigora atualmente entre nós e só vai poupando José Saramago, porque ninguém lhe pode negar o Nobel. 2. Utopista, e por isso mesmo também realista, Orhan Pamuk deu uma entrevista em que apresenta a solução para os grandes problemas da atualidade, mormente para as guerras, as pandemias e as alterações climáticas: o apagamento dos governos nacionais em proveito de um outro de âmbito mundial determinado a enfrentar e a resolver esses grandes desafios e daí forte o bastante para superar os obstáculos dos oligopólios. Enquanto isso não sucede vai continuando a investigar e a escrever novos romances, ao mesmo tempo que não se priva de ir zurzindo no regime de Erdogan.

Dele agora publicado a Editorial Presença um volumoso romance - Noites de Peste - com mais de 600 páginas e cuja escrita iniciou antes da pandemia do covid. Pioneiro ele escolhe por tema uma epidemia numa ilha imaginária em 1901 espelhando a tentação dos governos para, nesse tipo de situações, se tornarem ainda mais autoritários. De passagem ainda reflete nas circunstâncias em que o Império Otomano desapareceu.

3. Estou a ler um capítulo de Les Ingénieurs du Chaos em que Giuliano da Empoli revela a forma como se constituiu e empolou o Movimento Cinco Estrelas em Itália.

Explorando as emoções negativas nas redes sociais e usando o insulto como mensagem política mais frequente, Empoli revela os interesses  empresariais de quem explora a raiva, a paranoia e a raiva de tantos humilhados e ofendidos das nossas sociedades capitalistas e os transforma em idiotas úteis ao serviço dos interesses de quem deveriam fugir como da peste. 

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