A corrupção é difícil de detetar por não se verem facilmente as suas vítimas ao contrário do que sucede com outros crimes. Por vezes é uma entidade abstrata, tipo sociedade a que fica em perda. Vê-se a vantagem obtida por um pequeno grupo de pessoas, mas não se vê quem sai prejudicado, quem não recebe os recursos públicos, não obtém os cuidados de saúde ou a educação por causa dessa corrupção. Existe um acordo entre quem tem poder e quem está no setor privado, negociando entre si os preços dos produtos e/ou serviços comprados pelo Estado com a comissão embolsada por alguém em particular.
Existe também o nepotismo, ou seja a capacidade de usar a influência em favor de um familiar ou um amigo.
Apesar da da ilegitimidade de tais comportamentos há quem insista na inevitabilidade da corrupção para que a economia funcione por ser essa a natureza que está na origem do Estado desde que se criou, constituindo uma espécie de lubrificante capaz de facilitar a modernização e obviar à burocracia.
O historiador Jens Ivo Engels lembra como, sem uma administração centralizada, nem uma comunicação eficiente, os reis colocavam pessoas de confiança em postos chave para, em troca de empregos, de dinheiro e outras ajudas, ganharem sólida reputação e subservientes partidários. Havia obrigações dos dois lados, uma lealdade que nunca deveria ser questionada. Porque, acaso o fosse, todo o castelo de cartas em que assentava essa soma de dependências poderia ruir de um momento para o outro.
A Revolução Francesa alterou esse estado de coisas com a criação do funcionário moderno, que deveria ser suficientemente remunerado pelo Estado para prescindir de presentes e outras mordomias devidas ao sistema de apadrinhamento.
A corrupção deveria, pois, ter sido erradicada com a criação do Estado moderno. Lincoln logo o desmentiu quando quis abolir a escravatura, mas faltavam-lhe apoiantes na Câmara dos Representantes. Daí que tenha comprado os votos dos seus adversários demonstrando que uma das conquistas progressistas mais relevantes da História americana do século XIX foi conseguida à custa da corrupção e tendo por autor uma das suas mais “imaculadas” personalidades.
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