Como entretenimento, Morte no Teatro La Fenice possui todos os ingredientes para me agradar: passa-se numa cidade, que adorei conhecer - Veneza - e tem o ambiente do teatro La Fenice como espaço de investigação do inspetor Guido Brunetti, que se vê incumbido do esclarecimento das circunstâncias em que o maestro Wellauer foi envenenado enquanto dirigia a Traviata.
Encontrado no camarim quando os espectadores acabavam de se sentar depois do intervalo entre o primeiro e o segundo ato da récita, descobre-se-lhe uma personalidade odiosa, passível de se tornar vítima de um dos múltiplos suspeitos. Porque, como Brunetti acaba por descobrir, qualquer um dos que estavam ligados àquela produção - artistas, técnicos ou diretores do teatro - teriam razões mais do que justificadas para serem os criminosos.
Começava com este título a longa carreira do personagem criado pela norte-americana Donna Leon, que vive na cidade dos doges desde 1981, mas recusa a tradução dos seus romances para italiano, supostamente por temer que os vizinhos descubram as incoerências e inverosimilhanças do que coloca nas suas intrigas policiais.
Características evidentes de um personagem, que há quem equipare aos de Agatha Christie, é a de ser casado com Paola, uma aristocrata que lhe facilita o acesso à alta sociedade da cidade onde impera a corrupção, o vício e o turismo de massas. Mas sentir-se mais à vontade junto das camadas populares donde é oriundo. E, colateralmente, ter a acolitá-lo uma cidade, que acaba por ser tão ou ainda mais importante do que os protagonistas e figurantes de cada história.
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