sexta-feira, fevereiro 24, 2023

Um realizador sobrevalorizado e direitista

 

Passados dois anos sobre a sua estreia lá me armei de paciência para ver Tenet, o filme de Christopher Nolan, que levara uns quantos amigos a reputarem-no de difícil entendimento aquando da estreia, ainda a pandemia estava a afastar boa parte dos espectadores das salas de cinema. E confirmei o que já me habituei a ver na filmografia do realizador: personagens estereotipados sem características, que lhes deem substância (com ligeira exceção do Neil interpretado por Robert Pattinson, talvez por iniciativa do ator, ao sugerir ambiguidades não esclarecidas no argumento. Olhando para o protagonista, que nem a nome tem direito, para o vilão (russo, claro está!) representado por Kenneth Branagh ou para a sua esposa em estilo femme fatale, lá estão os modelos triviais de filmes de série B mas inflacionado com as pretensões de quem se assume como seu exclusivo criador-argumentista.

Há, igualmente, a habitual ideologia direitista de Nolan às tantas apostado em devolver ordem a um mundo minado pelo caos de acordo com o preceito de deixar o capitalismo destruir totalmente o planeta incumbindo o protagonista de livrar de aborrecimentos quem quer manter tudo como está.

A ideia subjacente à história até era interessante, mas Nolan nem sequer se deu ao trabalho de ilustrar os sinais daquilo que os motiva: recorrendo a uma forma de inversão temporal os nossos descendentes no futuro enviam os seus exércitos para o presente a fim de atenuarem os danos de uma situação distópica com que devem lidar. A expressão proferida pelo protagonista sobre caber a cada geração tomar as melhores medidas para viver o melhor possível é todo um programa político, que vale para quem ainda insiste na exploração das energias fósseis por muito que se saiba qual será o desenlace dessa opção.

Em Nolan irrita, sobretudo, essa persistente intenção de criar grandes blockbusters vendendo gato por lebre: algumas das teses científicas, influindo seriamente na ação, não merecem outra credibilidade senão a de parecerem vistosas para sustentarem uma variante de ficção científica associada aos filmes de ação.

Não se trata de ficarmos a discutir sobre entropias reversíveis e outras hipóteses lançadas de raspão, mas constatarmos o habitual foguetório de efeitos especiais, que pode impressionar os parolos, mas deixa indiferentes quem aspira a algo com outros fundamentos.

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