domingo, fevereiro 19, 2023

Quando Griffith afinava a intenção propagandística

 

Rodado em 1918, três anos depois de O Nascimento de uma Nação, e dois após Intolerância, Aos Corações do Mundo  conclui uma espécie de trilogia épica na filmografia de Griffith em jeito de superprodução, mesmo que, na ideologia e nas opções estéticas, os três títulos se cheguem a contradizer.

A versão acessível no You Tube, com os cortes impostos pelo produtor Adolph Zukor, desvirtua a coerência da obra na interligação com os filmes anteriores, mas permite entender como, após os propósitos pacifistas de Intolerância, Griffith apostou numa lógica propagandística destinada a apoiar a causa aliada na Primeira Guerra então em curso, havendo quem afiance a participação de Churchill na participação inglesa no financiamento da produção.

Rodado em Londres, na França e na América Aos Corações do Mundo associa as contingências da guerra às vicissitudes do triângulo amoroso interpretado pelas irmãs Gish e por Robert Harron. É um mundo noturno com as batalhas captadas à distância e as câmaras a atardarem-se demoradamente no equipamento militar envolvido.

Uma das cenas referenciadas por quem mais apreciou o filme é a da falsa justaposição da noite de núpcias entre a personagem de Lilian Gish e o marido em pleno campo de batalha, quando ele parece prestes a morrer. É antológico o longo plano em que os corpos se enlaçam, justificando a descoberta de uma obra, que as vicissitudes da distribuição subalternizaram injustamente em relação a outras desse período em que a indústria cinematográfica se consolidava.

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