Agora que a exposição na Cordoaria fechou as portas valeu a pena revisitar a obra fotográfica de Steve McCurry através do retrato cinematográfico dele registado pela câmara de Denis Delestrac, seu amigo há mais de duas décadas. De facto, em McCurry: The Porsuit of the Colour (2021), temos a oportunidade de seguir-lhe o processo criativo feito de viagens para as mais diversas paisagens do planeta, todas elas em acelerada mutação negativa por obra e graça dos homens, que as destroem quer através das guerras (Afeganistão, Líbano, Koweit, o ataque às Torres Gémeas de Nova Iorque), quer das alterações climáticas (Ártico).
Decidido a deixar testemunho à filha de dois anos sobre o mundo tal qual o encontrou, mas para ela muito mudado, há nele uma obsessão, que inibe qualquer vontade de arrumar as câmaras fotográficas e o leva a expor ou a publicar nas principais revistas internacionais as suas retocadas imagens, que tanta celeuma levantaram quanto à justificabilidade, ou não, de serem embelezadas com alguns dos truques do Photoshop.
Noutra abordagem das transformações em curso, o documentário L’Arctique, Une région bouleversée (2021) de Freddie Röckenhaus pretende mostrar como a região mais setentrional do planeta vai resistindo às fortes pressões para se ver despojada da calote gelada. Como guia, tomamos a ursa Misha e a cria Flocke, na difícil labuta de encontrarem com que sobreviverem num Spitzberg onde as temperaturas aquecem quatro vezes mais rapidamente, que mais a sul.
Pelo meio aparece uma climatologista lusa, Sofia Ribeiro, que estuda as consequências do desaparecimento desse gelo na fauna marítima da Groenlândia. E lá surgem as evidências dos perigos relacionados com o permafrost a descongelar, as matérias-primas a suscitarem a ganância de interesses empresariais e o turismo de massas a conspurcar o que deveria ser tido como verdadeiro santuário.
Sem comentários:
Enviar um comentário