segunda-feira, dezembro 27, 2021

Um dos muitos que a História subalternizou

 

Ao lermos os relatos sobre a viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães é fácil a tentação de querermos saber mais sobre Juan Sebastian Elcano, o comandante da frota, que conseguiu terminar a expedição com o único navio dela sobrevivente e acabou quase esquecido pela História.  Porque tem algo de singular a sua queda em desgraça, quando participou do motim que quase podia ter deitado a perder os objetivos de Magalhães - que não era a da volta ao mundo, mas tão-só a de alcançar as Molucas por outra rota, que não a dos portugueses -  escapando à condenação à morte apenas pelo facto daquele não ficar desfalcado de quem tão bem conhecia a arte de navegar como era o caso do  basco. Mas, nos relatos da viagem, Elcano ficou dois anos esquecido até assumir-se como improvável salvador da pátria, quando os superiores hierárquicos foram chacinados numa batalha com os que habitavam uma das muitas ilhas do arquipélago filipino.

Imprevidente, igualmente, em cuidar da posteridade, Elcano não contratou nenhum cronista para lhe fixar a história em forma de relato escrito, logo voltando a viajar para o oceano Pacífico em prol de uma fortuna, que não alcançaria, porque também ali teria encontro marcado a morte.

Em Elcano encontramos aquele tipo de protagonistas da História cujo trágico destino muito deve à sua própria imprevidência. A mesma que sempre o aproximou mais da morte do que da celebrada vida. 

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