quarta-feira, dezembro 29, 2021

Os Retornados do Estado Islâmico

 

Em 2016 Joshua Baker quase morreu no Iraque, quando a explosão de um carro-bomba lhe partiu a coluna. Rodava então o documentário «A Batalha de Mossul», produzido pelo «The Guardian».

No ano seguinte, ainda estava a recuperar das sequelas físicas e psicológicas da experiência, quando descobriu a história de Samantha El-Hussani, uma norte-americana alistada no Daesh cujo filho mais velho protagonizara um mediático filme de propaganda em que Trump era o alvo de ameaças.

Nos anos seguintes, e apesar da decisão de não voltar a uma região onde os perigos se tinham revelado tão potencialmente letais, Baker foi a Raqqa, às zonas dos yazidis e aos Estados Unidos para melhor conhecer toda a história por trás de quem, alegando inocência, acabaria condenada a seis anos de prisão por confesso financiamento do terrorismo. Sobretudo durante uma deslocação a Hong King, motivada por essa intenção.

Resulta daqui um filme muito curioso, porque os testemunhos sobre Sam são tão antagónicos - comprometedores os dos pais e o do pai do seu filho mais velho, abonatórios os da rapariga e do miúdo comprados pelo marido como escravos para os servirem - que acaba por ser  difícil perceber quanta inocência e culpabilidade nela coexistem.  Talvez tudo se tenha cingido a uma adolescente do tipo «cabeça no ar», que prolongou na idade adulta a mesma atração pelas situações de intensa adrenalina. A aventura no Califado pode-lhe ter parecido aliciante, tanto mais que o companheiro, marroquino também ele entusiasmado pela possibilidade de sacudir o tédio dos dias sempre iguais, depressa levara a tentação de partir para o Médio Oriente para uma concretização impensada.

No local ele terá desmascarado a sua personalidade mais sombria agredindo-a amiúde e forçando-a a comprar as escravas sexuais com que satisfazia os mais básicos instintos. Ela arrependendo-se de todo aquele envolvimento e lançando pedidos de salvação à irmã, por quem Joshua iniciara o projeto de filme.

Quem acaba por revelar notável maturidade e inteligência emocional é Matthew, que viu muitas mortes ocorrerem á sua frente e encontrou o estado de espírito mais eficaz para sobreviver ao desvario circundante. Aos 13 anos, e a viver com o pai, olha para esses anos com o distanciamento de quem deles se sente liberto.

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