sexta-feira, dezembro 24, 2021

Envelhecer. Oh envelhecer!

 

Durou três anos a aventura polinésia de Jacques Brel, encetada quando a projetada volta ao mundo no seu veleiro foi interrompida pela definitiva paragem numa baía de Hiva Oa, uma das seis ilhas habitadas das doze que compõem o arquipélago polinésio das Marquesas. Por essa altura ele teria a provável expetativa de superar o cancro fatal, ou pelo menos travá-lo durante o tempo bastante para usufruir aquele paraíso terrestre, que depressa compreendeu ser o melhor sítio para se despedir da vida. Mas os pulmões estavam demasiado afetados para dar-lhe a pretendida ambição, embora criasse entretanto «Les Marquises», o álbum definitivo  com muitos acenos de despedida aos amigos. Mas não só, porque contém alguns dos seus temas mais belos, mesmo que outros, anteriores, continuem a superá-los em notoriedade.

Como não entender o que Brel terá sentido por essa altura, quando chegamos ao crepúsculo da vida e desconhecemos por quanto tempo pairará o sol por cima da linha do nosso horizonte? Saibamos, porém, ter a sua sabedoria de lamentar que, se é duro morrer na primavera, acabamos todos por apanhar o comboio que podemos. Porque “Mourir, cela n'est rien/ Mourir, la belle affaire/  Mais vieillir ... oh, oh, vieillir. 

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