quarta-feira, dezembro 22, 2021

Cinquenta anos depois ainda haverá quem torça o nariz ao melhor filme de Visconti?

 


Faz sentido dar algum crédito aos que  criticaram «Morte em Veneza» por Luchino Visconti não ter seguido tim tim por tim tim o romance original de Thomas Mann e lhe acentuar a vertente homoerótica?

Cinquenta anos depois da estreia do filme  ele continua a ser fascinante e a garantir um inaudito prazer aos que gostam de cinema e da grande música, porque nunca o Adagietto de Mahler conhecera tal notoriedade até Visconti o utilizar para servir de acompanhamento sonoro à morte do prof. Aschenbach nó melancólico areal do Lido. Doravante esse andamento da 5ª Sinfonia de Mahler extravasaria do reservado universo dos melómanos para ganhar a dimensão de uma plêiade mais vasta de seus apreciadores.

E faz sentido falar de Veneza no cinema sem citar esta obra específica? Porque, mesmo não lhe frequentando os cenários mais icónicos - ou talvez por isso mesmo, porque a cidade vai muito para além das concorridas ruas entre a Praça de São Marcos e a Ponte de Rialto, crescendo em fascínio ao delas nos afastarmos! - nenhum outro filme deu da cidade esse tal sortilégio, que levava o compositor alemão a dela escusar-se a apartar quando a cólera virara pandemia e o risco de morrer se acantonado nessa prisão se tornara real.

Hino à beleza absoluta? Sem dúvida que aí Visconti e o autor do romance encontram-se sem reservas. Se Thomas Mann, cujas predisposições fantasmáticas eram bem mais reservadas do que as do assumido realizador italiano, veria em Tadzio mais do que o pretendido símbolo de algo inalcançável nunca o saberemos.

A realidade é que as décadas vão passando e os personagens interpretados por Dirk Bogarde, Bjorn Andresen e Silvana Mangano continuam na memória como protagonistas de um daqueles clássicos de cinema a que sempre regressaremos com prazer. Porque é filme em que, cada revisita, implica nele descobrirmos os pormenores, que nos tinham passado despercebidos nas anteriores apreciações. E esse é decerto um dos mais insuspeitos reveladores quanto à valia incontestada de uma obra-prima...

 

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