quinta-feira, dezembro 16, 2021

Mahmoud Saïd, o pai da moderna pintura egípcia

 

Olhamos para as obras de Mahmoud Saïd e é o Egito multifacetado, que se nos depara, sobretudo se dele conservamos a imagem recolhida a meio dos anos setenta, quando o Canal do Suez voltou a reabrir e permitiu-nos conhecer a destruição perpetrada pelo exército israelita numa sucessão de guerras, que começaram por ser de agressão ao seu território tal qual reconhecido pela ONU em 1948, mas depois revertida numa expansão para fronteiras internacionalmente ilegítimas.

Há o esquiço com o gato branco a lembrar quanto o animal doméstico é mimado nessa singular geografia desde os tempos dos faraós. E também as mulheres sofisticadas com quem Saïd conviveu na cosmopolita Alexandria onde nasceu em 1897. Completamente diversas das outras, as dos bairros populares do Cairo onde mergulhou de bom grado a partir de 1913, quando a endinheirada família o mandou estudar Direito para seguir as pisadas do progenitor, um primeiro-ministro aparentado à família real, já que a rainha Farida era sua sobrinha.

Embora influenciado pela arte ocidental, Saïd iniciaria uma ininterrupta obra pictórica, que não obedeceu a escolas, nem se quis seguidora de nenhum mestre. Daí nada dever ao orientalismo, que tanto inspirara artistas europeus, ciosos de tomarem o sueste mediterrânico como cenário exótico.

Rejeitando essa convenção, Saïd testemunhou o fascínio por uma cultura genuína e consistente como a que recolheu junto das confrarias sufis, cujos rituais de cânticos e danças ilustrou num quadro particularmente icónico por tudo nele sugerir o movimento circular dos corpos dos dervixes e o ritmo que os comanda.

Só se libertando dos deveres de magistrado para dedicar-se por inteiro à pintura  a partir de 1947, Saïd instalou-se numa casa à beira do Nilo. E foi o rio motivo de muitos quadros em que procurou o brilho interior em si imbuído, mais do que os reflexos da luz à sua superfície. O azul meio-esverdeado, que utilizou para, em infinitos matizes, o ilustrar, foi fruto de uma paleta de cores ainda hoje objeto de discussões entre os especialistas, que não sabem como o criou. Um segredo sobre o qual ninguém o questionou e por isso o acompanhou, quando da vida se despediu em abril de 1964. 





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