quinta-feira, agosto 12, 2021

Uma exposição impensável entre nós

 

Havendo muitos historiadores, que vêm aprofundando a História do Colonialismo português em moldes científicos capazes de não deixarem qualquer dúvida sobre o seu carácter predatório das riquezas dos povos africanos, mormente com a lucrativa atividade do tráfico de escravos, ainda permanece quase incólume a perspetiva heroica e criminosamente falsa transmitida pelo salazarismo. Como se tem constatado com a história dos jardins de Belém logo aparecem indefetíveis defensores dos símbolos «ultramarinos», quando eles são postos em causa.

Ao contrário da narrativa assumida por grande parte da população, se os portugueses se fizeram ao mar e «descobriram» terras, que já tinham quem há muito as habitasse, não os movia o desejo de expansão da «Fé», mas a necessidade de sobrevivência perante uma terra pobre do ponto de vista agrícola e uma situação periférica relativamente aos fluxos comerciais dos finais da Idade Média.  Os nossos navegadores foram corajosos e a sua necessidade aguçou o engenho de quem lhes construiu as caravelas ou lhes inventou o balestilha para melhor se orientarem nos azimutes, mas movia-os a mesma cupidez que levou outros a enveredarem pela pirataria no mar ou as pilhagens em terra.

Estamos ainda longe de contarmos com uma exposição como a que o Rijksmuseum apresenta atualmente em Amesterdão: tomando por tema a escravatura não existem pudores nacionalistas a omitirem a realidade, que nela se explicita. Tal qual os outras principais potências marítimas dos séculos XVI e XVII os holandeses não se coibiram de explorar o trabalho escravo e de com ele enriquecerem. Existe nesse projeto museológico uma honestidade intelectual ainda difícil de ver replicada entre nós.  Por muito que o partido fascista o queira negar, ainda são muitos os portugueses, que votam de acordo com os seus preconceitos racistas e xenófobos.

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