Na sua programação de verão a France Culture anda a evocar a importância do dr. Ignaz Semmelweis, autor de pertinente tese sobre a causa da mortalidade elevada no hospital central de Viena junto das parturientes, que tinham dado à luz numa das suas clínicas, aquela onde os obstetras eram, simultaneamente, professores vindos diretamente das experiências com cadáveres para se ocuparem do nascimento de bebés. Comparando as práticas nessa clínica e a de outra onde só trabalhavam parteiras sem ligações com a morgue, concluiu que as febres pós-parto poderiam ser evitadas se os médicos da primeira clínica lavassem as mãos com hipoclorito de cálcio.
Embora em 1847 a implementação dessa medida tenha dado resultados concludentes, Semmelweis viu-se ridicularizado pela classe médica, que não podia admitir causa tão óbvia para tantas mortes. As intrigas políticas foram bastantes para que fosse demitido do Hospital de Viena, transferindo-se para Budapeste onde os seus argumentos não colheram maior aceitação.
Desesperado pela indiferença com que se via tratado começou a publicar violentos libelos contra os seus detratores viu-se internado num manicómio com a conivência da mulher, que o acreditou genuinamente louco. Quinze dias depois de entrar na instituição foi sujeito a tal agressão pelo pessoal incumbido de cuidar dos pacientes, que morreu em 13 de agosto de 1865. Tinha apenas 47 anos e deve ter sido terrível o desespero de se ver incompreendido em algo que acreditava ser verdadeiro. Como o comprovou, anos depois, Louis Pasteur, que ajudou a recuperar-lhe postumamente a reputação e a dar explicação, através da infeções microbianas do que fundamentava cientificamente a sua tese.
Sem comentários:
Enviar um comentário