sábado, agosto 28, 2021

Mais um dia de vida, Raul de la Fuente e Damian Nanow, 2018

 

Pode um jornalista ser ator da realidade, que  apenas deveria testemunhar e reproduzir por palavras ou imagens? Ou pode e deve intervir, quando a consciência lhe dita a necessidade de não se mostrar falsamente imparcial e tomar posição por um dos lados em luta? É uma das principais questões levantadas por esta adaptação do livro publicado em 1975 pelo notável repórter polaco que foi Ryszard Kapuscinski. Até porque procura dar resposta ao epílogo por ele assumido na reedição de 2002 em que manifestava a vontade em saber o paradeiro dos que conhecera durante a guerra civil de Angola no seu ano da independência.

Tratando-se do livro mais amado do jornalista, que terá regressado da ex-colónia portuguesa como autêntico escritor, Fuente e Nanow associaram a animação a imagens de arquivo e a entrevistas com os que então o conheceram para demonstrar a razão dos que muito o admiram. E revelam as vicissitudes por que passaram os angolanos para acederem à independência livrando-se da ingerência direta dos sul-africanos, ou indireta da CIA, ao mesmo tempo que Moscovo os pretendia abandonar à sua sorte, valendo-lhes então a solidariedade internacionalista dos cubanos. Demostra-se a crueldade terrorista da Unita e da FNLA e exalta-se o heroísmo dos comandantes do MPLA em que avulta a coragem de Carlota (tão precocemente desaparecida) ou do português Farrusco, que mudara de trincheira durante a guerra colonial e é quem primeiro enfrenta a invasão do regime do apartheid.

Diferente de Valsa com Bashir com que foi comparado, Mais um dia de vida é exemplo de como a animação pode contribuir para dar da História uma representação aliciante e fiável.

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