quinta-feira, outubro 15, 2020

(DL) «Pegadas», um livro que vale a pena voltar a assinalar

 


Dez dias atrás já aqui chamei a atenção para este livro de David Farrier, mas nunca é demais assinalar-lhe a importância numa altura em que está, igualmente, disponível um documentário de referência, protagonizado por David Attenborough, na Netflix. A urgência causada pela crise sanitária não justifica, que se subalternize a outra, suscitada pela ameaça distópica inerente às alterações climáticas. Embora possa pecar por estulta importa olhar para a realidade com a atitude do escritor irlandês John Stewart Collis, quando, num certo dia de novembro, espreitou o oceano a partir de uma colina de Dorset e sentiu o que assim registou: “tentei imaginar o espaço mais além. Por um segundo, tive um verdadeiro vislumbre desse espaço, e do espaço para lá desse espaço. E, talvez por um segundo, vi a realidade de cem milhões de anos.”

Olhar o planeta de acordo com os milhões de anos, que nos antecederam e muitos outros, que contará depois de, provavelmente, estivermos reduzidos à condição de fósseis, permite relativizar as dificuldades a ultrapassar para que esse desiderato se adie tanto quanto possível. Escreve Farrier: “A pegada tornou-se uma das metáforas mais amplamente reconhecidas do impacto humano no planeta. Sobretudo no Ocidente, somos frequentemente instados a ter em atenção que a forma como vivemos produz uma marca química mais profunda ou mais superficial na atmosfera do planeta. A nossa pegada de carbono é uma marca do quanto (ou de quão pouco) nos preocupamos com as consequências das nossas ações.”

Na História geológica da Terra os nossos vestígios perdurarão durante milénios, tornando-nos “fantasmas que assombrarão um futuro muito longínquo.” E “hoje em dia o nível de CO2 na atmosfera será de cerca de 415 ppm, aumentando cerca de 2 ppm por ano. Cientistas da Universidade Nacional da Austrália especializados no estudo do clima propuseram recentemente que as atividades humanas provocam alterações ao sistema terrestre 170 vezes mais rápidas do que os processos naturais. Segundo este cálculo estonteante, assistiremos a 10 mil anos de alterações ambientais em 58 anos, menos do que uma só vida.”

Farrier não anuncia nada de novo, mas justifica-se que se repitam muitas vezes o que detalha no seu livro para apressar políticas que, há muito, deveriam ter sido tomadas.

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