A Promessa constitui uma autobiografia de homenagem a essa mulher, misturando tempos entre a infância marcada pela ausência do pai - vítima do Holocausto, mas que nunca chegara a conhecer -, a adolescência em que ela instigara-o a tornar-se exímio violinista e a emigração para o sul da França. A conclusão é sintetizada nesta frase definitiva: “Com o amor maternal a vida começa por prometer aquilo que nunca cumprirá”
Se Gary prestava tributo à mãe, quando já vivia em Big Sur e estava quase a conhecer outra mulher determinante na sua vida - a atriz Jean Seberg tão tragicamente desaparecida em 1979, provavelmente assassinada pelo FBI a mando de Edgar Hoover! - Henry de Montherlant focalizou-se na personagem de Inês de Castro na altura em que o autor de A Promessa andava pelo norte de África a combater os exércitos de Rommel.
O escritor, que conquistara mitigada notoriedade antes da Ocupação, teria em La Reine Morte o sucesso, que o consagraria como um dos mais prestigiados escritores francesesdo século transato, ainda que associado aos tidos, ideologicamente como mais conservadores a exemplo de Mauriac, Bernanos ou André Gide.
A ideia para a peça surgiu-lhe quando viu a história levada à cena num teatro parisiense numa adaptação da obra de um autor espanhol do Século de Ouro: Luis Velez de Guevara. Se Pedro e Inês conservam os nomes originais, Afonso IV é crismado de Ferrante, nome fonéticamente mais apropriado para quem se mostra inflexível nos valores e decide mandar matar aquela que o filho desposara em segredo, prejudicando os seus acordos com o reino vizinho.
Pessoalmente nada me diz a busca de um suposto Absoluto, que Montherlant pretendia encontrar através do que escrevia. Se alguma vez o encontrou, com ele o levou para a cova, porque lhe cumpriram os desejos de eliminar os diários, que escreveu durante quase toda a sua existência. Mas, formalmente, estranha-se o facto de quase nada acontecer nos dois primeiros atos, sobretudo se pensarmos que o texto literário foi concebido para ser levado aos palcos. Mas o próprio escritor reconhecia que La Reine Morte era mais para ser lido do que representado.
Outra é a natureza de La Prose Du Transsiberien Et De La Petite Jehanne De France, que Blaise Cendrars criou entre finais de 1912 e inícios de 1913, quando o cubismo entusiasmava os artistas vanguardistas de Montmartre e o casal Delaunay começava a tornar-se incontornável na definição de novos rumos para as ruturas estéticas com os pós-impressionistas.
Sonia ilustrou a viagem interior propiciada pelos dias no Transiberiano empreendida por um jovem adolescente acompanhado por uma prostituta com nome de heroína gaulesa. Através de 446 versos livres, capazes de transpor por palavras as experiências vividas pelo autor que, entre as aventuras reais e as imaginadas, sempre deixou uma margem para aferirmos quais terão sido umas e outras.
Henry Miller considerou a obra como um “arquipélago da insónia” pelo qual Cendrars faz coincidir a sua mitologia sobre a viagem iniciática, aqui vivida pelo aventureiro Rogovine, com a mitologia coletiva associada às revoluções em curso por toda a Europa, com o comboio a surgir como espaço de observação para o que elas pressupunham. Vinte anos antes do surrealismo, ela anunciava-o com uma violenta beleza.
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