terça-feira, outubro 27, 2020

(DL) Blue Bay Palace, Nathacha Appanah, 2004

 


Foi descoberta dos últimos dias: apesar de se tratar de um romance publicado há dezasseis anos e a autora já ter entretanto mais oito títulos no cartório. Nathacha Appanah era-me totalmente desconhecida, provavelmente por pouco tempo, porque começa a ser presença assíduanas listas dos potenciais candidatos aos mais importantes prémios literários franceses, o Goncourt ou o Femina, tornando-se provável a regra de ir tantas vezes o cântaro à fonte, que um dia acontece o expectável.

A história de Blue Bay Palace passa-se na Ilha Maurícia junto das comunidades herdeiras daquelas levas de indianos para ali trazidos, quando a escravatura foi ilegalizada e os senhores dos engenhos de cana-de-açúcar encontraram dificuldades de mão-de-obra para manterem produtivas as explorações. Século e meio depois essa sociedade indiana está bem estratificada, com os comerciantes, os latifundiários e os donos dos hotéis a assumirem-se como brâmanes ou equiparados, enquanto os pescadores ou os criados são olhados como dalits.

Maya tem dezasseis anos e vive na ponta da ilha onde habitam os que buscam sustento no mar ou estão empregados no luxuoso hotel ali implantado. Numa feira conhece Dave e é o amor à primeira vista. Porque ele é gerente do empreendimento turístico, onde o pai trabalha, Maya depressa manda às malvas o projeto de sair do espaço exíguo da ilha para buscar futuro mais ambicioso na Europa, e não descansa enquanto não consegue emprego de rececionista de forma a estar o mais perto possível do amante.

Durante dois anos vive a ilusão de se vir a casar com ele, mas a desilusão torna-se imensa, quando um jornal local anuncia o mediático casamento, que unirá duas das mais importantes famílias de Mahébourg.  Se a cobardia dele a agasta e a leva a agredi-lo violentamente, maior ainda é o descontrolado ódio à rival, que ver-se-á vítima da sua determinada vingança. De permeio, ainda que o amor desapareça, subsiste o desejo que ela satisfaz na clandestina relação com Dave até dele se fartar ou com o jardineiro da sua mansão, que lhe serve de oportuna forma para a ela aceder. 

Seguindo o plano até ao desiderato esperado, Maya demonstra um carácter forte, mesmo que eivado de uma ingenuidade, que nos vai inquietando, porque ora feita de empatia, ora de fundamentada censura.

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