Foi há cinquenta anos numa das memoráveis sessões do fim da tarde no Monumental, que congregavam os estudantes vindos do Técnico ou da Cidade Universitária. Em Jeremiah Johnson ou As Brancas Montanhas da Morte, como equivocamente o crismara o tradutor, convergiam dois criadores, Sidney Pollack na realização e Robert Redford na interpretação, que estavam na fase ascendente das respetivas filmografias. E através do western ressoavam duas guerras, a do Vietname para os autores, mas também as de África para os lusos espectadores, em ambos os casos cientes de como os invasores estavam mergulhados em impasses, que a crescente sucessão de vitórias dos invadidos, culminariam nos acontecimentos de 1974.
Jeremiah Johnson resultava, igualmente, do fascínio de Pollack e Redford pelos grandes espaços do Utah. Por isso, e contra os conselhos do estúdio de Hollywood, quiseram-no fazer em espaços naturais, sujeitando-se ao exíguo orçamento propiciado pela sovinice dos investidores. O que não foi particularmente grave por ter por tema a deambulação silenciosa e meditativa de um homem fugido da civilização para viver do comércio das peles numa região em que se via obrigado a conviver com os índios Crow.
Porém, ao deixar de viver de acordo com essa distanciação, acedendo a ajudar brancos a atravessarem a região em direção ao mítico Oeste, incorria voluntariamente na violação de um tabu, que sabia sagrado - desrespeitar um cemitério índio. Daí sofrer-lhe as consequências - matavam-lhe a mulher e o filho - que o levavam a converter-se numa máquina assassina, tomando por alvo toda a população nativa, que tinha sido até então sua parceira de negócios.
Na acelerada descaracterização da paisagem o protagonista desumanizava-se na sua sanha destrutiva.
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