quinta-feira, maio 11, 2023

A Conferência

 

São tantos os filmes e, sobretudo, os documentários sobre a Segunda Guerra Mundial, que esta proposta de Matti Geschonneck sobre a Conferência de Wannsee dificilmente traria qualquer novidade.

Restava aferir como o cineasta, oriundo da antiga RDA, cuidaria do tema. E reconheça-se a habilidade para evitar as armadilhas da teatralidade através de uma sobriedade a que não é estranha a ausência de música na banda sonora, excluindo a fácil manipulação de emoções do espetador. Muito embora a unidade de tempo e de ação pudesse facilitar esse tentador pecado original.

Na manhã de 20 de janeiro de 1942, recebidos por Reinhard Heydrich, que faz figura de anfitrião, quinze dignitários do regime nazi discutem o genocídio já em marcha, procurando conferir-lhe uma legitimidade distinta do crime monstruoso, que todos pretendem negar enquanto tal. A negação do Outro atinge tal paroxismo, que um dos circunstantes formula o desejo de ver evaporados esses judeus cuja existência constitui um incómodo a ultrapassar.

Paira por aqui a conceção de Hanna Arendt sobre a banalidade do mal com um conjunto de homens capazes de, nos intervalos da reunião, evocarem as famílias como qualquer irrepreensível chefe de família. E a alimentarem, entre si, desconfianças e rivalidades, que demonstram a precariedade do pensamento único nessa elite nazi.

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