segunda-feira, maio 01, 2023

Os paradoxos de uma invenção em ambiente criminoso

 

Quando pensamos nas experiências científicas realizadas em Auschwitz vem-nos imediatamente à mente o nome de Josef Mengele. Mas Les Expérimentations médicales à Auschwitz - Clauberg et les femmes du bloc 10, documentário de Sonya Winterberg e Sylvia Nagel, realizado em 2019, faculta-nos o percurso de Carl Clauberg, conceituado ginecólogo alemão antes da guerra e destacado para o campo de concentração para, a mando de Himmler, prosseguir o seu trabalho de investigação sobre novas técnicas de esterilização apoiado pela Siemens e pela Schering.

Injeções nos ovários, obstrução das trompas de Falópio e outros métodos saldaram-se por inúmeras mortes e dolorosas consequências para as vítimas sobreviventes, algumas das quais aqui ouvidas nos impressivos relatos sobre quanto então sofreram.

Preso e julgado pelos soviéticos, Clauberg passou dez anos na prisão até ser devolvido à Alemanha de Adenauer, que negociou com Moscovo o regresso de milhares de prisioneiros de guerra. Programava retomar esse interrompido labor científico, quando foi chamado a responder em novo processo judicial aberto pelas suas vítimas, que não tiveram ganho de causa por ele ter entretanto morrido.

Paradoxalmente Clauberg fica na história da medicina como inventor da pílula anticoncecional, que vem garantindo à Bayer prodigiosos lucros nas últimas décadas. Porque a empresa farmacêutica alemã comprou a Schering, a antecessora que, com a Siemens, nunca foi incomodada pelo papel de ´patrocinadora dos crimes cometidos em Auschwitz.

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