quinta-feira, maio 11, 2023

Bacon e a herança de uma estadia no Mónaco

 

O Papa a gritar, reinterpretando um conhecido quadro de Velasquez, data de 1953, - ou seja quatro anos depois de Francis Bacon ter deixado o principado do Mónaco onde se instalara durante três com o mecenas e amante! -, já não tem a inspiração dos dias em que passava boa parte do tempo no casino ou a conviver nos cafés circundantes com gente pouco recomendável numa boémia permanente, mas recolhe os distantes efeitos dessa estadia. Contém a mesma obsessão em não saber parar, empastelando camadas sucessivas de tinta para obter a inigualável representação dos corpos humanos demasiado vivos, quase no limite de já se terem convertido em zombies.

Influenciado pelos surrealistas e, amiúde, tentado pela abstração, Bacon nunca se filiará numa escola precisa, porque busca vias inéditas na exploração de todas as suas potencialidades. Mormente optando pela parte traseira da tela, para ele mais interessante para aplicar a paleta de cores, que a convencional.

Não é que se goste dos seus quadros, mas têm aquela estranheza, que Pessoa reconhecia capaz de se entranharem na nossa apetência pela mais diversa curiosidade.

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