quinta-feira, maio 18, 2023

A Parte dos Anjos, que Ken Loach nos deu a conhecer

 

Sempre estimulante o regresso aos filmes de Ken Loach por corresponderem àquilo que o cinema tem no seu melhor: a vertente militante capaz de denunciar as injustiças presentes  e mostrar vias possíveis para a sua superação. Muito embora os protagonistas vivam invariavelmente percursos solitários (ou quase) sem se envolverem em mais eficazes esforços coletivos, que dariam melhores resultados a prazo mais alongado.

Em A Parte dos Anjos, que valeu a Loach a Palma de Ouro em Cannes em 2012, temos Robbie, um jovem de Glasgow com apreciável currículo delinquente, mas apostado num melhor futuro ao filho acabado de nascer. Daí que arregimente os parceiros do trabalho comunitário a que foi obrigado pelo tribunal pela mais recente “façanha” para o projeto suscitado pela descoberta do mundo dos leilões de whiskies em Edimburgo, onde uma garrafa de malte pode alcançar valores acima do milhão de libras.

Se nesse mundo especializado a parte dos anjos é a que se evapora dos barris de whisky, quando se garante a sua respiração, os quatro “anjos” roubam o objeto de cobiça dos diversos colecionadores no próximo leilão e vendem-no ao norte-americano pouco escrupuloso, que haviam surpreendido em tentativa de o garantir junto do enólogo incumbido da função de mestre da cerimónia.

O filme tem cenas reveladoras como aquela em que os quatro cúmplices se incumbem da limpeza dos grafitis dos túmulos de um cemitério de Glasgow como se, mesmo depois de mortos, os ricos da cidade continuassem a obrigar os mais pobres a prestarem-lhes serviços de manutenção.

O final do filme satisfaz-nos a vontade de ver Robbie dar o pulo para a tal vida diferente por que ansiava para si, a namorada e o seu filho. Um happy end que nos sabe bem... 

Sem comentários: