Na coleção do CAM da Gulbenkian constam obras de Manolo Millares, pintor canarino, que viu a reputação extravasar do arquipélago, afirmar-se na Espanha franquista onde ele e a família - orgulhosamente republicana! - sempre foram destratados como subversivos e alcançar o reconhecimento das grandes galerias e museus internacionais.
Infelizmente para ele, a morte suscitada pelo tumor cerebral, levou-o antes de ocorrer o fim da era de repressão fascista, que se adivinhava prestes a chegar ao fim com a degenerescência física do seu mentor. Mas a violência dos que tinham sido assassinados, torturados e presos durante e depois da Guerra Civil, está explicita em quadros em que os corpos se veem desmembrados ou os buracos na tela podem evocar as balas disparadas contra os corpos dos fuzilados.
Essa vocação assassina dos castelhanos também o assombrou nas múmias vislumbrados no Museu de Las Palmas que davam conta da população primitiva das ilhas, responsável pelo legado de uma cova com representações geométricas da sua arte, e cujas vidas tinham sido trucidadas pelos conquistadores do século XV até à total extinção.
Quase desconhecido entre nós - quem perante as suas obras nas galerias da Avenida de Berna não se terá interrogado sobre quem teria sido esse artista espanhol? - terá sido um dos mais determinantes para influenciar a arte espanhola do século XX.
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