domingo, maio 21, 2023

O cinema como representação do real

 

O problema do casting levou Jacques Audiard a revoltar-se contra a imagem de um tipo de cinema apenas com atores e atrizes brancas, sem contracenarem com as personagens de muitas outras etnias, que caracterizam a sociedade atual. O que, depois do sucesso do seu quarto filme  De Tanto Bater o meu coração parou (2006) - que lhe valeu oito Césares! - o impeliu para três projetos completamente diferentes.

Um Profeta (2009) aborda a extrema violência do meio prisional vendo-se um jovem de 19 anos, Malik, incumbido de assassinar outro dos detidos. Ao contrário dos filmes enquadráveis nesse género, há uma forma inédita de abordar a miséria subjacente a toda essa realidade e assim constituir-se como um testemunho do presente. 

Ferrugem e Osso (2012) tinha a deficiência física e a pobreza como temas. Por um lado Stéphanie, que ficara sem as duas pernas na sequência de um acidente, do outro Ali, que sobrevive à custa da participação em combates clandestinos. Para Audiard ambos eram representativos de uma sociedade, que estava a transitar para uma certa barbárie sendo o corpo o único recurso para diversificar o que se consegue comer depois de respigado do lixo.

Em Dheepan (2015) Audiard vai à procura dos que nos vendem rosas nas esplanadas e vieram de geografias distantes. Cuida de nos confrontar com as dificuldades do seu quotidiano e com a importância de lhes reconhecer o direito à sua dignidade.

Os três filmes são incómodos, mas abordam a realidade na sua mais genuína crueza... 

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