“Chapéu de chuva vermelho”, fotografia de Saul Leiter datada de 1955, é elucidativo exemplo de quem foi redescoberto nos anos noventa do século passado enquanto grande mestre da cor, capaz de conferir à simplicidade do quotidiano uma sugestão abstrata.
Vindo de Pittsburgh, onde a família judia ortodoxa pretendia força-lo a ser rabino - alcunha de que nunca se livrará nos vinte anos vividos no mundo da moda - Saul Leiter aterrou no East Side de Nova Iorque como um alien chegado a um mundo desconhecido. Estava-se no imediato pós-guerra e a intenção era fazer carreira na pintura na peugada do seu admirado De Kooning.
A fotografia surgiu como recurso imediato para ganhar a vida, mas logo inovando, porque a quis colorida e com composições tão cuidadas quanto as dos pintores cujas obras ia aprofundando em museus e livrarias. E replicando a estratégia de Cartier-Bresson ao postar-se pacientemente na rua aí esperando que um motivo viesse impor-se como enquadramento da sua Leica. Por isso assumia que “a rua é como um bailado. Nunca sabes o que ali se irá passar.”
Mesmo quando as revistas de moda o contrataram para ilustrarem as suas páginas a opção estética foi única: recorrendo a espelhos, convidou os que visualizavam as suas fotografias a olharem-nas com perspetiva completamente diferente da dos colegas de então. Porque continuou a ser um ideal de beleza absoluta, que o continuava a nortear, influenciado pelas estampas japonesas, que já tinham fascinado os impressionistas do século anterior.
Desaparecido há dez anos, Saul Leiter deixou um espólio, que continua a merecer a atenção dos que não se iludiram com a sua discrição e o consideram um dos nomes mais significativos da História da Fotografia.
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