Numa semana culturalmente marcada pelo desaparecimento do José Duarte, pelo colóquio sobre Jorge de Sena e por passar mais um aniversário sobre a morte de Mário Viegas, tem piada a polémica em torno do quadro de um nu feminino arrematado pelo triplo do valor de licitação num leilão onde se vendeu a hipótese de se tratar de uma obra da recatada Aurélia de Sousa, pintora de quem se evocou o centenário do seu desaparecimento no ano passado.
Será que é dela a autoria conforme afiançou uma familiar da artista, que lhe herdou boa parte da obra, e deixou disso registo na sua parte traseira? Ou terá sido obra da irmã Sofia, que procurava replicar-lhe os passos mesmo que, reconhecidamente, com menos talento?
O que mais entusiasmou os que se pronunciaram sobre a tela foi a ousadia - houve até quem invocasse o “descaramento”! - da modelo, que expressaria assim uma fortíssima carga sexual. E lá veio a questão por alguns lançada de forma quase clandestina, sobre a orientação sexual da pintora.
Se era lésbica ou não, pouco nos deveria importar, embora haja quem avance a possibilidade de investigação séria sobre tal assunto e a decorrente influência no que deixou.
Fica a constatação de que, quer Aurélia, quer Sofia, foram instigadas a pintar vários nus femininos, quando frequentaram a Academia Julian em Paris, escusando-se aos temas mais consensuais das naturezas mortas ou dos bouquets de flores, que as deixariam menos comprometidas com o conservadorismo ideológico em que nasceram, cresceram e sempre viveram. E talvez tivessem mantido o interesse pelo tema ao regressarem a casa, mesmo continuando a trabalhá-lo às escondidas dos que com elas conviviam...
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