quinta-feira, abril 13, 2023

O que ficámos sem saber sobre Margot Dias

 

Catarina Alves Costa  assinou o documentário sobre a antropóloga Margot Dias, que trocou a Alemanha nazi pelo Portugal para onde o marido, Jorge Dias, regressara após o periclitante doutoramento ali conseguido, porque condicionado pelos crescentes bombardeamentos aliados.

Curiosamente a realizadora não questiona a protagonista do filme sobre a dissociação, que soube fazer da ideologia em que crescera para, depois, estudar tão empenhadamente a cultura maconde do norte de Moçambique. Porque o seu propósito científico consegue libertar-se da tentação racista, que a educação ariana pudera impor-lhe.

Teria sido interessante olhar para esse fascínio pelos povos africanos colocando-o em paralelo com o de Leni Riefenstahl, também ela envolvida em projeto singular junto dos Nuba do Sudão depois da luso-alemã ter sido pioneira nesse esforço, ainda que diferenciando-as a preocupação científica desta última em detrimento dos especificamente estéticos da autora de O Triunfo da Vontade.

Reverente à biografada, e tendo para incluir no documentário muitas imagens colhidas em Moçambique nos finais dos anos 50, Catarina Alves da Costa não problematizou uma personalidade que se adivinharia ter outra complexidade que não só a apresentada no filme. 

Sem comentários: