Voltaram-me a passar pelos olhos umas quantas fotografias de Santu Mokofeng, fotógrafo sul-africano nascido na safra de 1956, que foi também a minha, mas tendo o Soweto como berço e o apartheid como incontornável circunstância, daí o testemunhando com um misto de revolta e poesia.
Um dos seus projetos, que mais o interessou nos últimos anos de vida (morreu em 2020) foi o das paisagens envenenadas, seja pela ação direta da indústria do seu país - mormente a diamantífera em Kleinzee na costa ocidental -, seja pela atividade humana global. Na desolação da savana ele pressupõe a memória de quem ali viveu e se apresta a abandonar tão-só desaparecem as condições para ali sobreviver.
Na memória tenho a referência de uma viagem de carro entre Port Elizabeth e Joanesburgo em que testemunhei aquilo que ele procurou com a sua câmara: a constatação de uma realidade, que a cultura bóer transformou em distopia para grande parte da sua população.
Em contraponto com esse mergulho num abismo real fica-me o da Alice criada pela imaginação de Charles Dodgson e objeto de uma exposição, que lamento não ter visto presencialmente, quando o brexit acabara de se concretizar e a pandemia ganhava os cabeçalhos dos jornais.
Do que é possível aferir de um documentário de Dione Orrom, rodado para ouvir as intenções da curadora do evento e percorrer as diferentes salas do Victoria & Albert Museum, fica a noção de se ter tratado de proposta bem mais interessante do que a exposição ali disponível na única vez, que lhes franqueei as portas: a que exibia o guarda-roupa da princesa Diana.
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