domingo, agosto 28, 2022

Uma breve pausa de Aragon à beira do Mediterrâneo

 

Pode-se aprender a gostar de uma cidade, que não se escolheu para viver? A questão pôs-se a Louis Aragon, quando chegou a Nice em dezembro de 1941 para garantir fugaz segurança na parte francesa sujeita ao regime de Vichy, mesmo sabendo-se desde o primeiro dia vigiado pelos esbirros de Pétain.

Acompanhado por Elsa Triolet, com quem casara dois anos antes, não conseguiu eximir-se à culpabilidade de adiar a luta ativa contra os ocupantes em benefício de uma momentânea pausa para respirar. Até porque, aprisionado em Paris, conseguira evadir-se, mas sabia-se alvo potencial dos que não hesitariam em dar-lhe destino igual ao dos muitos outros resistentes.

Enquanto não voltou à luta ativa fez da escrita um catártico exercício não só com textos de apoio aos que lutavam e tombavam, mas também regressando à ficção e à poesia, que deixara em pousio nos cinco anos anteriores. Surgiu assim Aurélien, romance sobre uma frustrada história de amor entre dois jovens na Paris dos anos 20, ele burguês, ela oriunda da província, e ambos a buscarem um no outro aquilo que não conseguiriam nem poderiam encontrar. E também a coletânea de poemas Les Yeux d’Elsa, que continua a ser tido com um exemplo lapidar de um tipo de escrita, ao mesmo tempo amorosa e militante. Porque o ser amado coincide com uma França, também ela obsessivamente querida.

A estadia na cidade mediterrânica durou pouco mais de um ano, porque Mussolini invadiu-a e obrigou o casal e entrar na clandestinidade mais a norte. Mas, antes de partir, Aragon ainda teve a alegria de conhecer Matisse no hotel Regina, tornando-se seu amigo e arvorando-o como o símbolo da esperança nos amanhãs que cantam através das suas multicoloridas telas. 

Sem comentários: