1. Não consigo decidir-me se existe ou não fundamento para considerar a Sevdalinka como o «fado dos Balcãs». Sei que “U Stambolu Na Bosforu” de Dafne Kritharas é das mais belas canções, que ouvi nos últimos tempos, e está impregnada do sentido de nostalgia tantas vezes associado à nossa tradição musical. E, no entanto, tão distintas são as geografias em que uns e outros sons emergiram, não faltando evidências quanto às diferentes idiossincrasias de portugueses e dos vários povos da antiga Jugoslávia. A não ser que sobrevenha a relevância da condição peninsular, que torne o mar numa presença incisiva e Ulisses (ou Sebastião) num iminente viajante prestes a chegar. Não posso, aliás, esquecer aquele domingo de asfixiante verão no Pireu, em que me refugiava no ar condicionado do quarto de hotel, e o rádio, sintonizado numa estação grega, começou a emitir o “Barco Negro” na voz de Amália.
Reconheço que Amália nesse tema e Dafne Kritaras no aqui referenciado, remetem-me para emoções semelhantes, difíceis de detalhar por estarem no domínio do indizível. Mas que, eventualmente, corroboram a similitude entre ambas as tradições musicais.
2. As esculturas móveis de Jean Tinguely também são dificilmente traduzíveis em palavras: esculturas feitas de peças mecânicas, que se movimentam, mas só servem para suscitar uma reação de surpresa em quem as descobre e lhes tenta descortinar o sentido estético. Pode ser uma descrição básica, mas manifestamente insuficiente!
Julgo ter sido em Beaubourg, que vi uma obra do artista suíço pela primeira vez, quase ao lado dum mobile de Alexander Calder. E ambas as cinesias abriram-me horizontes quanto às coordenadas propostas pela arte contemporânea. Que, por esta altura, já se torna clássica, por outras propostas inovadoras continuarem a mostrar quão ilimitadas podem ser as imaginações de quem as criam.
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