segunda-feira, agosto 29, 2022

Ma Loute, Bruno Dumont, 2016

 

Não nos tivesse Dumont brindado dois anos antes com O Pequeno Quinquin e Ma Loute seria uma imensa surpresa. Como já estranhámos e entranhámos essa vertente criativa do realizador - autor de outro filmes deste tão díspares - pudemos preparar-nos para o que nos esperava. Por exemplo ver três excelentes atores (Luchini, Binoche e Bruni-Tedeschi) em deleitados overactings, tão a contrario daquilo que nos  habituaram e por isso ambíguos na forma de se autocaricaturarem. Ou misteriosos desaparecimentos de turistas nos areais costeiros do norte de França numa colorida belle époque, que não exclui os espaços para nudistas. Ou os patéticos polícias, ridículos ora por serem redondamente gordos, minusculamente albinos ou incrivelmente desafinados a tocarem uma trombeta. Ou a família burguesa, dona de grandes indústrias na região de Turcoing, ora capaz de se espantar com o mais trivial, ora disputando-se por lhes estar na pele a incestuosa concupiscência. Ou o rapaz, que era afinal uma rapariga ou, em alternativa, uma vistosa moçoila afinal dotada de uns comprometedores testículos. 

Numa história desopilante há polícias a voarem pelo ar, supostos milagres da Virgem Maria e uma demonstração de como a luta de classes pode ser mostrada numa lógica em que os de baixo servem de burros de carga aos ricos, mas estes acabarão, mais cedo ou mais tarde, nos seus pratos.

Cereja em cima do bolo existe um cuidado estético na fotografia, verdadeiro regalo para os olhos em tantos fotogramas!

Sem comentários: