Se há escritor que lamento ter lido pouco, embora lhe conheça razoavelmente a obra à conta da sua adaptação em séries televisivas, é Georges Simenon. Daí corrigir a falha lendo-lhe alguns livros, comprovando aquilo que ele confessava: “cada capítulo dos meus duzentos e vinte romances é o resultado de algumas horas a caminhar”.
Maigret, o emblemático protagonista da maioria desses títulos, é um polícia particularmente atento aos pormenores da vida dos contemporâneos, desde que Simenon o fez surgir no início dos anos 30 em Pietr, le letton. O comissário, vindo do Auvergne para instalar-se no seu quartel-general no nº 36 da rua Quai des Orfèvres, começava a demonstrar a apetência para ter as melhores intuições ao comer num bistrot ou beber um copo num café.
A tendência para tomar por cenários os meios operários ou pequeno-burgueses nem sempre se confirma: em Les Caves du Majestic (1942) aproveita para centralizar-se num hotel de luxo - do tipo do Claridge onde Simenon tanto apreciava ficar, quando passou a dispor dos meios para tal! - a pretexto do aparecimento do corpo de uma rica americana nas suas caves.
Simenon também faz aprofundado retrato de Paris, que percorreu de lés-a-lés, pondo o comissário a investigar os crimes de um serial-killer nas ruas labirínticas em torno do cemitério de Montmartre num romance intitulado Maigret tend un piège (1955). Mas, mais interessante é Maigret et la jeune morte, publicado no ano anterior, e em que, para desvendar um crime perpetrado em Pigalle, vai investigar todo o passado da rapariga nele vitimada.
Neste deleitado exercício de leitura é inevitável dar a Maigret o rosto de Jean Richard, o ator que, mais do que Gabin ou Bruno Cremer, preferi ver no desempenho daquele personagem!
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