Justíssima a homenagem a António Campos empreendida por Catarina Alves da Costa sob a forma de um documentário em que dão testemunho muitos dos que o conheceram ou só puderam apreciar-lhe a obra.
Nos sombrios anos 50, quando o cinema português bateu no fundo quanto à quantidade e qualidade dos filmes produzidos, o modesto empregado de secretaria da escola industrial de Leiria começou a filmar com a sua câmara de super 8 e, quase instintivamente, criou um tipo de cinema aparentado com o neorrealismo, mas que era mais do que isso. Porque depois de um documentário sobre o rio Lis em 1957 e duas experiências ficcionais - O Senhor (1958) e Um Tesouro (1959) -, António Campos decidiu instalar-se por algumas semanas numa aldeia algarvia para colher imagens do quotidiano dos pescadores do atum: A Almadraba Atuneira (1961).
Desvalorizado, porém, como lobo solitário, que prosseguia a sua filmografia na condição de amador, porfiaria no esforço de rodar filmes de ficção - A Invenção do Amor (1965) - embora fossem os documentários os que lhe garantiriam melhor reconhecimento: Vilarinho das Furnas (1971) , Falamos de Rio de Onor (1974) e Gente da Praia da Vieira (1975).
Voltando à ficção em 1992, com a adaptação de um romance de Ferreira de Castro, Terra Fria (1992), morreria em 1999 sem nunca ter conseguido os apoios, que lhe proporcionariam condições para concretizar os seus muitos projetos. Nem sequer a Gulbenkian, para a qual episodicamente trabalhou, lhe possibilitou ser profissionalmente mais do que o funcionário público em cujo estatuto se reformou. Culpa da timidez, que não conseguiu compensar com a teimosia em fazer cinema, mesmo quando se lhe opunham os maiores obstáculos. Que, muitas vezes, vinham dos que desejava dar memória futura e o rejeitavam com a desconfiança de nele terem um inimigo. Que foi como foi recebido pela população de Vilarinho das Furnas, porém, por ele imortalizada!
Sem comentários:
Enviar um comentário