segunda-feira, junho 13, 2022

Varda por Agnés, Agnés Varda, 2018

 

Admirável Agnés! E o nosso infinito agradecimento por tão jubilatórios momentos proporcionados pelos filmes, que rodou ao longo de mais de seis décadas.

Dirão os mais cínicos que este seu último filme pouco adianta em relação às Praias, rodadas dez anos antes, quando se vira octogenária e entendera justificável a apresentação do testamento cinematográfico. Mas, se quis repetir o esforço, agora como nonagenária, o resultado não deixa de ser delicioso porque, embora sabendo-se na iminência da despedida, só uma vez a confessa por serem as dores constantes, deixando o reconhecimento do iminente desfecho - ocorrido no mês seguinte ao da estreia do filme na edição de 2019 do Festival de Berlim - para a cena final na forma de despedida numa das suas bem amadas praias e a imagem a escurecer até a tornar invisível, já não se seguindo depois o genérico porque, precavera-se a apresenta-lo no princípio.

Em relação ao testamento anterior há novidades a captar, mesmo pelos mais especializados dos vardianos! Por exemplo a estrutura de construção do seu Sem Eira Nem Beira  em treze travellings  e como eles se interligavam. Ou a maior importância conferida à condição de artista visual com instalações de notável criatividade apresentadas em museus e festivais artísticos de vários continentes, mormente os que dedicou às viúvas da ilha de Noirmentier ou às batatas em forma de coração.

Nas duas horas de revisão da matéria dada passamos por todas as fases por que passou a sua criatividade, dando particular importância às que resultaram da militância feminista, mas também social, não omitindo os fracassos comerciais, que se escusa a justificar ou a comentar. Mesmo quando, no mais aparatoso de todos eles, conseguiu juntar Catherine Deneuve e Robert de Niro numa mesma cena a bordo de um barco.

A evidência maior do longo percurso criativo foi a de sempre se mostrar atenta ao que ia acontecendo de novo, quer em termos de tecnologia - o surgimento das pequenas câmaras digitais, que lhe permitiram a rodagem dos Respigadores - quer na própria linguagem artística em geral. E daí o exultante encontro com J.R.

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