quinta-feira, junho 16, 2022

Mon Amour, David Teboul, 2022

 

Estreou-se ontem em França este documentário, que passou no DocLisboa há dois anos e produto de um conceito singular: em 2007, depois de uma relação amorosa, que durara dez anos, Teboul soube da morte por overdose dessa pessoa de quem recentemente se separara. E questionara-se desde então quanto à forma de fazer o luto de uma história afetiva que, mesmo saldada num fracasso, deixara uma memória inesquecível associada à culpa por quanto poderia ter feito para evitar o trágico desenlace?

Durante quase três horas surgem-nos os testemunhos confessionais de aldeões siberianos de todas as gerações, que evocam a sua ideia quanto ao significado do amor e como o vivem ou viveram quando se enamoraram. E de quanto sofreram, quando voltaram a ficar sós.

Nessa paisagem gelada onde todos conhecem bem demais o frio, o álcool, a frustração do que se ambicionou e nunca se alcançou, todos têm a sua versão do amor e de como o exprimiram empenhadamente.

À France Culture Teboul explica o que quis fazer e o quão difícil continua a ser a aceitação do que disso resultou:

“Em lugares distintos, todos vivemos uma história de amor. E eu queria ir muito longe para conhecer essas pessoas, para me reconstruir através delas. Era uma forma de evitar o "eu" narcísico da autoficção e ir em direção ao "eu". Para isso, senti a necessidade de filmar pessoas que nunca são questionadas sobre a questão do amor. Não desapareço por trás dessas pessoas, mas testo a narrativa desconstruída dessa história. Na verdade, as personagens permitem-me reconstruir essa história, porque, para mim, é mais fácil falarmos de nós falando dos outros.(...)

O que foi muito difícil foi abordar o meu próprio amor. Como fazê-lo quando o outro deixou de existir? Agora o filme estreia-se nas salas e sinto a estranheza de falar do presente de um passado. Sinto-me em falta, porque não consigo exprimir o que sinto, só consigo fazer os outros falarem, por isso faço filmes sobre outras vidas que não a minha.” 

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