Gosto de voltar a filmes, que me tenham agradavelmente impressionado no passado, reencontrando-os com a grata sensação de sempre neles encontrar algo de novo.
Curiosamente não voltei a este de Spielberg, talvez porque julgasse recordá-lo tão bem, que sentiria estulta a disponibilidade de duas horas e um quarto para conferir o que dele já julgava conhecer.
A surpresa foi concluir o quanto o havia esquecido. Se o fio condutor da intriga ainda estava nítida na memória, multiplicaram-se os detalhes esquecidos e fundamentais para a estruturarem no seu todo. Nesse sentido posso reconhecer que, sem me fascinar tanto quanto ocorrera nos vinte anos de idade, ainda conseguiu dar a este sexagenário que sou, um bocado bem passado. Até porque melhor escalpelizei o que, então, escapara tornando mais compreensível muitas das cenas à luz daquilo que viemos a saber sobre o realizador: o quanto sofrera com o divórcio dos pais numa altura em que essa opção de rutura conjugal não era tão comum. E como elas se inserem na melhor demonstração do tema preponderante da história: a incomunicabilidade - não só dentro do casal -, mas também entre as gerações, entre as diferentes nacionalidades e, sobretudo, entre a elite política, militar e científica e a generalidade da população.
Para o ateu que sou não me agrada a tentação religiosa, que consiste em associar os extraterrestres a uma representação do próprio Deus de quem se esperam todas as respostas (o personagem de Dreyfus a olhar para o céu e a gritar por ajuda, por uma explicação) e para quem se canalizam todas as expetativas. Mas a entrada desse personagem na nave não corresponderá alternativamente a uma entrada no contraponto da vida, ou seja na morte?
A costela cinéfila satisfaz-se com a presença de François Truffaut, mesmo que como inverosímil cientista, mas à procura e propondo novos códigos para uma linguagem de entendimento com os aliens, naquela que constitui uma homenagem à nouvelle vague. Há, igualmente, o prazer de evocar muitas outras referências cinematográficas, nomeadamente o Hitchcock de A Intriga Internacional com os helicópteros a pairarem sobre as cabeças dos protagonistas ou a analogia da montanha do filme com a do Monte Rushmore.
À sua terceira longa-metragem (quarta se contarmos com o telefilme Duel, que teve distribuição nos cinemas europeus), Spielberg lançou aquela que seria a matriz da sua obra nos quinze anos seguintes, aqueles em que foi visto como um jovem com muito de infantil, mas capaz de criar impressivos entretenimentos para todas as gerações.
À distância lamentei que o seu sucesso, a par do de George Lucas e outros cineastas da geração New Wave tenham forçado o dobre de finados dos que procuravam impor um tipo de filmes mais políticos e adultos. Através de metáforas propunham uma visão semelhante da América, mas menos explicita e mobilizadora. Porque aqueles que então questionavam o falhanço dos sonhos e a sobreposição dos pesadelos nas terras do Tio Sam, foram silenciados ou condenados a curvarem-se perante a emergência de um tipo de cinema de mera diversão. Como este assumidamente continua a ser...
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