quarta-feira, março 15, 2023

O vencedor dos Óscares, bicharocos hediondos e as mulheres à nossa volta

 

1. Tudo em todo o lado ao mesmo tempo. Tenho o filme congelado na cloud  desde o final de janeiro, mas ainda não tinha sentido prioritária a apreciação. Agora, a cerimónia dos Óscares deu-me estímulo corretor: as críticas e comentários ao filme são tão positivos que lá tenho de alterar a ordem por que organizo a projeção de imagens na parede da sala e dedicar-me a apreciar uma obra tida como complexa, difícil e só provavelmente compreensível nos vários níveis de leitura após repetida experiência.

2. Enquanto não dou seguimento ao partilhado e oscarizado objetivo, inicio a sós a revisão de Alien - o Oitavo Passageiro, que já não revisito desde a estreia quatro décadas atrás e do qual, mais do que a cena do peito de John Hurt a abrir-se para de lá sair hedionda criatura, fica-me a memória de dois casais a prolongarem demasiado o jantar no Bairro Alto e a correrem esbaforidos calçada da Glória abaixo para só pararem no Condes a tempo de entrarem no segundo balcão, quando estava a completar-se o genérico inicial.

Que daria para atalharmos calmamente o caminho demonstra-me esta redescoberta: vista a primeira meia-hora de filme ainda nada de relevante sucedeu! A tripulação do Nostromo acordou placidamente da hibernação, bebeu café, discutiu problemas laborais e só agora começa a investigar as circunstâncias da destruição de uma nave alienígena que fora chamada a socorrer. As cenas de suspense e de eliminação progressiva de todos os protagonistas, menos um, ficam reservadas para os próximos capítulos, quando voltar ao ponto em que os deixei...

3. Provavelmente já poderia ter visto Mulheres do meu País, seja na versão em longa-metragem, realizada em 2019, seja nos três episódios que lhe sucederam e, tanto quanto indaguei, entretanto transmitidos na RTP. Foi a primeira hipótese a que agora conhecemos, a dos 14 testemunhos de mulheres de diferentes idades, cores, culturas e profissões, colocadas perante a câmara de Raquel Freire para se desvendarem nas limitações enfrentadas e nos alimentados sonhos. Sem nada de novo a revelarem quanto às discriminações de que se sentem alvo, mas dando-lhes rostos concretos, que ajudam a dissocia-las de exemplos dos estereótipos, que poderíamos ser tentados a ver em cada uma delas.

Como balanço fica o reconhecimento da dificuldade em ser mulher numa sociedade misógina e em que, cada vitória, exige esforços admiráveis com os quais só podemos demonstrar solidária veneração. 

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