1.
Como conciliar a evolução tecnológica e a capacidade de ter o cérebro a acompanhá-la? Se calhar é necessário dissociarmo-nos da ilusão de sermos bem sucedidos nessa impossível tarefa, que nos esgota e faz-nos desconhecidos de quem verdadeiramente somos.
Retomar a simplicidade pode ser a única hipótese de não nos perdermos. É o propósito do método Abramovic, que comporta afinidades com as propostas orientais quanto a atingirmos a plena consciência por via da introspeção, recentrando-nos em nós mesmos sem cairmos nas fúteis armadilhas dos gurus da autoajuda.
2.
Não ter medo de dominar a dor. Marina Abramovic impôs esse desafio ao próprio corpo, quando o disponibilizou à sanha perversa dos que assistiram a uma memorável performance em Nápoles no ano de 1974. Já lá vão quase cinquenta anos.
Ela temia o resultado imaginando-se na pele de Cristóvão Colombo, avançando para os mares desconhecidos a ocidente e temendo ali encontrar o fim do mundo em forma de um abismo para onde não seria possível evitar a queda.
Ao fim de seis horas, compreendeu não ser estulto esse medo: prolongasse por mais algum tempo a experiência e acabaria provavelmente assassinada.
3.
Experiência totalmente diferente a de 2019 quando propôs a dois mil participantes o ouvirem música como nunca a haviam sentido até então. Cinco horas ´de atenta escuta da orquestra de Frankfurt, colhendo-lhe os sons, mas também os imprescindíveis silêncios. Alcançando patamares insuspeitos na sua capacidade de percecionar...
Para quem fizera do corpo a matéria para impressionantes espetáculos visuais, muitos deles no limite do suportável, a focalização na escuta constituiu mais um passo numa procura, que parece inesgotável.
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