Confesso não me entusiasmar a obra de Arnold Schoenberg, demasiado atonal para o meu gosto. Tenho de me resignar ao meu gosto conservador porque, hélas, a música barroca ou a novecentista satisfaz-me mais do que (Chostakovitch, Philip Glass, Steve Reich ou John Adams à parte) as experiências compositivas, que lhes sucederam. Daí a resistência que sabia inevitável, quando me confrontasse com Von Heute auf Morgen, ópera composta por Schoenberg em 1929 e objeto desta adaptação cinematográfica em 1996.
O filme do casal Straub-Huillet funciona como desafio intelectual, que me interessa pelo quanto comporta de inovador, mas me deixa indiferente no capítulo das emoções subjacentes.
Terá sido a primeira vez que os realizadores optaram inteiramente pelo estúdio, mas compreende-se que o tenham feito porque, ao contrário da generalidade dos filmes pensados como adaptações de óperas - e que lhes merecia veemente crítica! - era-lhes fundamental a captação direta do som. Não lhes passava pela cabeça o recurso ao play back, porque importava-lhes "captar ao mesmo tempo o canto e o corpo que canta" e isso significava a colaboração de uma orquestra com setenta instrumentistas, mesmo que, depois de os vermos nas cenas iniciais, delas se evaporassem a seguir por muito que a sua presença continuasse imprescindível no acompanhamento aos cantores.
A escolha da fotografia a preto-e-branco também se revelou deliberada porque possibilitaria a sensação abstrata, que qualquer cor tenderia a inviabilizar por incitar a possível naturalismo. E o maior interesse residirá em identificar os três eixos visuais, com os ângulos em diagonal, que visualmente foram apontados pelo crítico António Rodrigues como inerentes ao cinema desta dupla criativa.
Não está em causa um prazer melómano ou cinéfilo, mas decerto que exigente desafio intelectual...
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