Há quem comente que «Verano Rojo», o primeiro romance dos costa-riquenho Daniel Quiros é o que de mais aproximado poderia ser um thriller assinado por Dashiell Hammett, se este tivesse a formação ideológica de Gabriel Garcia Marquez. Mas, independentemente da intriga policial, que lhe subjaz, convida-nos para as praias de areia branca do país centro-americano, particularmente para a zona de Tamarindo, hoje uma das estâncias turísticas de maior sucesso do país, onde o custo por noite num dos seus hotéis de cinco estrelas é maior do que o do ordenado mensal dos seus camareiros.
Não importa que Guanacaste, a província onde ocorre o crime, e serve de rampa de lançamento para tudo o que decorrerá a seguir, seja a mais pobre e rústica da Costa Rica, por ainda ter boa parte da população dedicada à agricultura e à pecuária. É nela que uma das mais conhecidas habitantes da vila, Ilana Echevarri, a Argentina, aparece crivada de balas, de bruços na areia, as águas da maré do início da manhã a movimentarem-lhe os cabelos depois de apagarem as pegadas ali deixadas por quem a assassinou.
Don Chepe, um amigo dela, que procurara o sossego da reforma na região, decide assumir o papel de investigador começando por dirigir as suspeitas para quem tinha sabidas divergências com a morta - Pinueve e Zaguate - confessos recetores de duzentos dólares para a ir vigiando.
Para o leitor a culpabilidade desses suspeitos seria demasiado óbvia e Daniel Quiros introduz um importante momento da História do país: o atentado de la Penca em 30 de maio de 1984, no outro lado da fronteira da Nicarágua com a Costa Rica, que se saldara por quatro mortos e uma vintena de feridos, tendo por testemunhas o jornalista sueco Peter Olsson e o suposto fotógrafo alemão Werner Michel, que, na realidade, é Victor Gandini, ex-guerrilheiro do Exército Revolucionário Popular, dado como morto em 1989 na ocupação do quartel La Tablada em Buenos Aires.
Gandini passa a constituir o foco do interesse do protagonista, que o identifica como antigo amigo de Ilana durante mais de trinta anos e até com ela ter partilhado uma ação revolucionária contra o general Videla. Teria sido na sequência do fracasso dessa Operação Gaivota, que ambos se haviam radicado na Nicarágua, aí rompendo relações.
Uma carta deixada por Argentina a Chepe põe-no na pista de El Angel, um conhecido milionário mexicano de reputação mais do que duvidosa, mas em dívida para com ela na sequência do salvamento de um filho seu. É esse Gabriel Eduardo Mejia, quem dá a Chepe a localização de Gandini em coordenadas GPS, garantindo-lhe a possibilidade de esclarecer definitivamente os motivos do crime e a sua autoria.
Embora só acessível em espanhol, o romance abre o apetite para a obra de um escritor ainda jovem, que recorre à atmosfera tropical do país natal para desmentir a sua tão glosada quietude e demonstrar como até nela se cruzam os protagonistas das histórias, que têm marcado o subcontinente latino-americano nas últimas décadas...
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