Passam vinte cinco anos sobre a morte de Marguerite Duras e, numa entrevista a Luís Caetano, Maria Teresa Horta di-la a mulher mais jovem, que conheceu, apesar de só terem interagido diretamente quando ela já ia nos sessentas. Irreverente, sempre! Genial naquilo que nos legou em livro ou em filme e a que regressamos com o mesmo prazer de descoberta. Porque conhecemos muitas Marguerites nas muitas Duras, que deu a conheceu. A filha da mulher determinada a vencer as marés do Índico, apesar de espúria a ilusão de vencer a força das monções. A rapariga, que descobriria o amor na Indochina, rompendo com os tabus de etnias, que não se deveriam misturar. A jovem, que começaria a trabalhar para o governo de Vichy, mas acabaria por se ligar à Resistência perdendo o então companheiro para uma das razias, que levariam milhares de proscritos para os campos de concentração. A criadora de personagens, que tanto nos fascinaram como Anne-Marie Stretter ou Lol V. Stein. Frases como “tu n’as rien vu á Hiroshima. Ou aquele miúdo que recusava ir à escola por só lhe quererem ensinar o que não sabia. A feminista, que associou-se a tantas lutas de mulheres, quer em França, quer fora dela, como sucedeu com as nossas Três Marias. O apoio a Mitterrand, quando ele personificou a “força tranquila” em 1981. E o prazer com que a víamos apostrofar com Bernard Pivot. Ou os anos finais, os das marcas indeléveis do alcoolismo, mas mesmo assim capaz de responder à versão dulcificada do filme de Jean Jacques Annaud com uma nova versão do romance que, equivocamente, a trouxera de novo à ribalta.
Aqui recordada por efeito da efeméride, ela é dispensável como argumento, quando nos sentimos tentados a retomar a tão fascinante universo criativo.
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