Nos documentários sobre a vida selvagem andamos formatados pelos modelos da BBC ou da National Geographic, mas são muitos os realizadores europeus, que ensaiam outras formas de abordar a Natureza, dando-lhe leitura mais original. É o que sucede com o francês Dominique Hennequin que, apesar de homónimo, não deve ser confundido com o competentíssimo multipremiado engenheiro de som de dezenas de filmes franceses.
Em Des bêtes et des sorcières (2019) ele parte deste pressuposto: muitos animais selvagens suscitaram um grande número de lendas e superstições, que os davam como os maus das histórias populares. O caso dos veados, por exemplo: as bruxas prestar-se-iam às suas virtudes afrodisíacas no recato das florestas e muitos teriam poderes demoníacos. Furfur, o mais temível de entre eles, tinha asas para melhor prodigalizar os seus feitos malignos.
As corujas constituem outro bom exemplo: apesar de livrarem as populações rurais dos nefastos roedores, tinham fama de anunciarem a morte quando eram inesperadamente vistas por quem se apressava a designá-las como as «damas brancas». A mesma má fama atribuída a uma espécie de borboleta, de meritórios talentos polinizadores, mas olhada com temor por quem as vê capazes de retrocederem de costas para o sentido em que se movem e de demonstrarem um imoderado prazer pelo consumo de mel.
A partir daí os exemplos são imensos - sapos, texugos, pica-paus, morcegos, lebres, raposas - são inúmeras as crendices populares, que dão fé de medos absurdos, justificando-lhes o extermínio.
Em hora e meia, e com algumas animações da autoria de John Howe, o diretor artístico de O Senhor dos Anéis, o documentário elucida-nos sobre aspetos inequívocos de alguma falta de inteligência do género humano.
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