Numa época em que a pandemia fomenta as maiores desconfianças relativamente à indústria farmacêutica por parte de negacionistas apostados na lógica do quanto pior, melhor, ou quando em países como a Polónia ainda se privilegia o cânone católico de uma sexualidade estritamente orientada para a reprodução da espécie, um filme como este suscita-me sempre alguma reserva. Porque, mesmo baseando-se nos efetivos riscos de algumas pílulas contracetivas das chamadas novas gerações, pode alimentar os preconceitos dos que consideram os produtos farmacêuticos invariavelmente perigosos ou os que anseiam por cercear a sexualidade adolescente em nome dos «bons costumes».
Rodado para televisão, embora tenha percorrido o circuito dos festivais internacionais, o filme acaba por ter na questão de saúde pública um eco de fundo porque focaliza-se nos estereótipos associáveis a alguns dos personagens: há o chefe de família na crise da meia-idade a mandar a mulher e as filhas dar uma volta em prol da ilusão de um amor, para que não encontra reciprocidade. Há a mulher ambiciosa, que gostaria de ver-se reconhecida num mundo dominado pelos homens e é atirada para a valeta ao menor pretexto. Há a diretora de marketing muito moderna, que até recorre às emergentes influencers e alimenta uma dinâmica para a qual deixa de ter qualquer controle.
No fundo nada que recomende um filme passado há alguns meses na RTP2, que esteve a ocupar espaço no cantinho da nuvem contratado a uma das operadoras e com todas as características de chiclete. Mastigou-se e deitou-se fora...
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