Embora sempre leia com interesse os romances de José Luís Peixoto nunca deles me ficaram memórias de exultantes satisfações. Existe um inquestionável talento, uma capacidade narrativa competente, mas, chegada a última página, sempre me ficou a ideia de cumprir mais um item na check list, sem vontade de, alguma vez, considerar a hipótese de revisitar a mesma obra. Mas isso sou eu que só reservo essa condição a raros escritores, cujos títulos gosto de revisitar. Saramago é o exemplo mais óbvio, estando prometida a mim próprio, a redescoberta de toda a sua obra durante o próximo ano, quando o centenário do nascimento servir de oportuno pretexto. Talvez por isso mesmo um dos livros de Peixoto, que me deixou mais grata memória foi aquele em que o mesmo Saramago serviu de protagonista a hábil abordagem ficcionalmente biográfica.
É nesse mesmo misto de biografia e de ficção, que José Luis Peixoto nos vai dar a conhecer algo da vida de Rui Nabeiro. A história conta-se mais ou menos assim: o empresário de Campo Maior ter-lhe-á manifestado a vontade de se ver biografado e eis o nosso escritor empenhado em dar corpo a essa intenção. O resultado é o novo romance, Almoço de Domingo, a lançar lá para o fim do mês, e em que narra a reflexão de um homem a abeirar-se dos 90 anos, durante três dias a olhar para tudo quanto construiu para si, para a família e para a população da vila alentejana, que serve de sede aos seus negócios.
Embora Nabeiro seja personalidade, que merece toda a nossa admiração - razão bastante para cá em casa só se beber café da Delta! - não estou propriamente a ver como Peixoto conseguirá dar-lhe dimensão bastante para o termos como personagem digno de uma obra maior da nossa literatura. Teremos contornos dramáticos, que nunca nos tenham sido revelados? Ou ficar-nos-emos pela encomiástica promoção de quem já, por si mesmo, conseguiu fazer-nos render a quem julgamos ele ser.
Um mistério para esclarecermos, quando o livro nos chegar ás mãos...
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