Numa cena de Viagem a Tóquio de Yasujiro Ozu (1953) o casal de idosos, que foi de Onimichi à capital para visitar os filhos, e sentem não ter deles a esperada atenção, quedam-se à beira de um rio a ver a água a correr para a foz. É a vida a seguir o seu curso , sem que possam travá-la, reduzir-lhe o ímpeto transformador.
É porventura uma das imagens, que mais facilmente me vem à mente, quando evoco os filmes do realizador, por ilustrar o mais constante dos seus temas: o crepúsculo da família tradicional substituída por algo de indefinidamente novo. A modernidade a impor-se às angústias íntimas dos personagens, invariavelmente, interpretadas pelo mesmo conjunto de atores.
Nas cinco dezenas de filmes, que assinou, Ozu aprimorou a sua maneira de filmar optando por planos fixos a partir do chão apesar de muito lhe agradarem as cenas de ação - e as formas de as representar no cinema de Hollywood. Mas, escusando-se a imitá-las, o mestre japonês encontrou um estilo muito seu em que vemos as casas de madeira com paredes deslizantes, a abrirem-se para o espetáculo do mundo. Sempre dando atenção aos detalhes, que pareceriam quase insignificantes e permitindo ao silêncio espelhar o espanto nos rostos dos forçados a conformarem-se com não encontrarem lugar numa realidade, que se vai impondo sem eles.
Ozu continua a ser um dos realizadores, que mais estimo e de que nunca me canso de rever os filmes.
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