quarta-feira, junho 19, 2024

Histórias Exemplares (XXXIIV) - As contradições de um revolucionário

 

Serge Bramly considerou-o o primeiro artista em rutura com todos quantos o antecederam. Até então todos os predecessores, mesmo os mais geniais, surgiram na continuidade de outros, que lhes haviam aberto o caminho.

Gauguin - é dele que se trata! - até pelo nascimento assumia condições para ser revolucionário. Não tivera por avó a notável Flora Tristan, que fora impetuosa feminista na primeira metade do século XIX? E o exotismo de Lima, no Peru, onde viveu até aos sete anos, não o punha à margem do convencionalismo burguês da capital francesa, apesar de, por uma década, a ele se ter rendido enquanto bem sucedido corretor na Bolsa, extremoso marido e pai de numerosa prole?

Decidido a ser autêntico consigo mesmo e falhada a associação com Van Gogh, Gauguin procurou respostas para as muitas inquietações nas paisagens paradisíacas do Tahiti e das Ilhas Marquesas, embora a colonização francesa estivesse a expurgá-las do que nelas lhe interessavam: esse lado selvagem, que libertasse os constrangimentos das convenções.

No quadro de 1897, que foi um dos mais importantes de quantos ali pintou, interrogou sobre de onde proviemos, quem somos e para onde vamos? Tudo respostas que não saberia dar.

Condicionado pela doença apenas poderia concluir jamais sentir-se bem onde estava, porque outro sítio poderia ser mais interessante para se exilar. Mesmo que, todos quantos buscou, acabassem por ser incómodas desilusões... 

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