Página 27 de «Deus na escuridão” de Valter Hugo Mãe: não é só a versão mitológica sobre o descobrimento da ilha atlântica, que justifica o encanto com nesse iniciar do segundo capítulo do livro. É sobretudo a beleza de uma escrita, que nos continua a fascinar:
“A mitologia conta que, quando encontraram a ilha da Madeira, não puderam adentrar a mata de tão espessa. Por canto nenhum se subia à ilha, cheia de alturas à vista larga e contudo, sem modo de pousar os pés. Também conta que, esticados nos barcos, os homens de então foguearam a natureza. Circundaram como entenderam e foguearam por toda a parte. Sete anos mais tarde, quando aconteceu de alguém voltar a encontrar nossa terra, a ilha ainda ardia. Os fumos faziam grandeza nos promontórios junto às águas, as chamas subiam para depois das nuvens vindas do interior das maiores caldeiras, onde as gargantas secas dos vulcões tinham nutrido floras exuberantes. Diz-se que, de tão bela a ilha e suas plantas, tão belas flores aqui se nasciam, ainda voavam pássaros lastimando o incêndio. Pássaros maravilhosos. Muitos ter-se-ão extinguido por lhes doer de gritar e por lhes doer de tristeza. Tantos terão acabado como labaredas em fuga mar fora, pequenos cadáveres incandescentes que se sepultaram nas águas.”
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